A câmera é o instrumento que eu uso para criar. Para alcançar a arte. Nunca tive muito dom com as mãos, e ao invés da tinta escolhi a luz para pintar o meu mundo, para fazer a minha percepção das pessoas e de tudo que me cerca se externar e se tornar não mais apenas uma demonstração do meu eu, mas também uma identificação para o outro.
Transformo a câmera em uma ferramenta para se viver. Uma extensão do corpo capaz de trazer o outro para mais perto de mim, ou de me levar para mais perto do outro. Não é técnico, como muitos pensam. É mais poético e espiritual que tecnológico. Não foi comprar a primeira ou a segunda câmera o que me fez fotógrafa, mas enxergar o mundo de outra forma. Quem fotógrafa sabe, fazemos sem a câmera perante os olhos. Ouso contemplar aquilo que os olhos comuns não enxergam, ver beleza no tido feio, e compreender que fotografia é arte e composição, é a compreensão de que por todo o mundo muitas obras existem para serem capturadas. Não foi fazer o meu primeiro retrato o que me fez uma artista, mas acreditar que aquele retrato tinha, tem ou poderá adquirir um diferencial inconteste que transforme, ainda que um pouquinho, a vida do outro.
É essa simplicidade que mais me seduz. Essa capacidade que a fotografia tem de parecer tão singela, tão comum, e ainda assim alheia a tudo isso e especial nas mãos de quem a vê como ela realmente é: um instrumento capaz de mudar o mundo. Se eu serei capaz de mudar, pouco a pouco, o mundo de algumas pessoas, confesso que não sei dizer. Mas, parafraseando Steve Jobs, ouso ser louca o suficiente para acreditar que posso fazê-lo. E assim, talvez o faça.